Sala 1457

Cavete ut, monstris pugnantibus,
tu ipse non monstrum fias...
nam cum diu in abyssum spectes,
abyssus etiam in te intuetur

Friedrich Nietzsche, Além do Bem e do Mal, cap. 4, pg. 146


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Poesias

Em Mil Traços

    Já não me importa mais a tristeza e a dor,
    Já nem ouço, sequer, extenso clamor.
    Minh'alma foi amortecida, 
    Em seu disfarce perdida,
    
    Já não me detenho mais no pesar
    Já não penso de fato que tristezas hão de passar
    Estou só e somente 
    Ainda que vivendo no meio de tanta gente. 
    
    Já não escuto mais os sons 
    Que emergem da manhã vermelha
    Já nem me incomodo mais 
    Nem com o som de dez mil abelhas
    
    O que em mim se passa não sei 
    E descrente estou de que um dia saberei
    Entre papéis e autorizações
    Burocracia sem fim e zero soluções
    
    Minha vida é como se fosse
    Um problema matemático
    A princípio complicado 
    E nada carismático
    
    Descendendo ao caos em rápido mergulho
    Nem medo nem terror, sinto apenas orgulho 
    Orgulho esse da paz que me espera
    Longe no horizonte, lá no fim das eras
    
    Meu ser a cada dia 
    De si próprio se esvazia 
    Vendo que nada vai me resgatar 
    A mim só me resta esperar
    
    E um dia desses de sol,
    Quem sabe de fato
    Da morte eu receba
    Carinhoso abraço
    
    Melancolia descendente
    Numa espiral convalescente
    Nem minhas palavras fazem mais sentido
    Neste personagem, creio que estou perdido
    
    Ah, quem me dera ser outro alguém
    Nascido noutra época longe no além
    Assim mesmo eu digo, não precisaria encarar
    Tampouco ser quem sou, a lógica desafiar
    
    Mas que lógica é essa que não sou capaz contemplar?
    O que é isso que não sou capaz de alcançar? 
    Nas mil leis da física, digo eu, uma apenas rege total
    Entropia, ela mesma, esta é universal
    
    E novamente já não sinto
    Eu devia estar dormindo
    Mas cá estou em linha reta
    Proclamando os dizeres do poeta
    
    O louco poeta frustrado 
    Que em suas palavras não encontra agrado
    Tampouco lógica este tem
    Mas escreve e declama como lhe convém
    
    Que é isto que ele faz? 
    Não saberia explicar nem o mais sagaz
    As atitudes do pobre poeta dos poemas invisíveis
    Que escreve seus pensamentos indivisíveis
    
    Este se encontra confuso neste instante
    Pois apesar de não saber sobre o que
    Ainda escreve não obstante
    Sem pestanejar a tudo despeja
    
    Sua loucura que na mente pesa 
    Finalmente liberta de sua prisão
    Grita muda no papel em dor
    E o poeta com suas mãos, se encontra em torpor
    
    Espero aqui terminar esta elegia
    Que se desfaz como desabafo
    Enigmática confissão
    De um poeta já não mais são
    
    Ao vazio me entrego uma vez mais
    Sabendo que não sou capaz de me fazer entender
    Nem mesmo ao que vê, agradar
    E eis que eu, o louco poeta, hei de me retirar
    
    O descanso me aguarda
    Se momentâneo ou eterno, não sei
    Mas em todo caso, hei de esperar
    As surpresas que o amanhã há de revelar
    
    E uma vez mais me despeço
    Creio que já o faço pela terceira vez
    E escusas requisito,
    Posto que não consigo parar de escrever
    
    As ideias vêm fluindo como um rio em vazante 
    Descendo violentamente pelo leito 
    Num fluxo exuberante, este minha mente, 
    Que encontra vazão em meus dedos 
    
    Transmitindo em palavras o que penso
    E o que sinto ou deixei de sentir
    Que fique registrado aqui
    Quem eu fui para quem serei no porvir
    
    E agora sim espero me despedir definitivamente
    O descanso ainda me aguarda, passei do horário
    Espero amanhã acordar para tudo 
    Mas se não acordar, não morrerei mudo
    
    Pois prova de quem sou deixei
    E minha elegia aqui registrei
    Para que vejam quem sou, quem fui e quem serei,
    O poeta, o louco, aquele com ilusões de rei
    
    Não espero que estas palavras ecoem 
    Por milênios e gerações,
    Apenas quero que esta memória permaneça
    Sobrevivendo ao tempo para que não desfaleça
    
    E assim, amigos, é chegada a hora 
    A confissão aqui termina, o poeta vai embora 
    O louco em processo de cura, criminoso em reabilitação
    Assim permaneço e me faço, desenho a mim mesmo 
    
    Em mil traços
  

Máscaras

    Sem ideia
    As que vêm são vazias
    Até demais para compor
    Até onde eu devo ir pelo meu próprio bem?
    Escrevendo até o limite da linha 
    Meus sentimentos, tenho algum?
    Quem eu sou, já fui alguém?
    
    Escrevo incessantemente
    Na esperança de me desligar de mim
    Alcançar os grandes mestres, nunca foi meu objetivo
    Eu só quero soltar tudo isso em algum lugar
    De preferência que não seja a cara de alguém 
    Nem os ouvidos de um inocente
    Muito menos a cabeça de um colega.
    
    Todo dia é uma luta diferente contra meu único inimigo 
    Luto comigo mesmo num conflito moral
    Eu faço o que quero ou faço o que é correto? 
    Fui preso a essas correntes sem poder decidir 
    E se agora decido, sou julgado por isso 
    Ser quem sou ou ser quem sáo? 
    Máscaras eu uso e meu rosto não transparece. 
  

Echo

    I should be 
    
    I should be 
    
    Somewhere else
    Somewhere else
    I should be 
    
    I should be 
    
    Somewhere else 
    
    Somewhere else 
  

Começo e Fim

    Onde tudo começou é onde vai terminar
    Eclipsando, como o pôr do sol, 
    O momento vai chegar.
  
    Onde tudo começou é onde inicia o fim 
    O vento sopra, as folhas caem 
    Anunciam assim.
  
    Onde tudo começou é onde tudo acabará
    E onde tudo acabará,
    Começo não haverá.
  

Was anyone there?

    Was anyone there? 
    Behind the face, the mask, the door;
    Behind the fear, the wind, the poor; 
    Behind the facade that you now contemplate. 

    What if was anyone there? 
    Would you see the real face? 
    Behind the mask and the door,
    Even behind the facade? 
    Would you? 

    But what if you saw, 
    And the face behind the mask 
    Did not please you
    Would you forget 
    That somehow there was anyone there? 

    Semiconscious you may ask
    If behind the mask, the face and the door
    Was there anyone. 
    And from behind the face, the mask and the door,
    No one shall answer the call of yours.